Cosmologias racializadas: processos políticos e educativos anti(racistas) no ensino de Física e Astronomia

Autores

  • Alan Alves-Brito Universidade Federal do Rio Grande do Sul

DOI:

https://doi.org/10.18593/r.v46.26279

Palavras-chave:

educação em ciências, física e astronomia, cosmologias racializadas, epistemologias negras, racismo estrutural

Resumo

Os modelos cosmológicos desenvolvidos pela Astronomia e pela Física são considerados fundamentais não apenas para a construção histórica do conceito moderno e contemporâneo de ciência, mas também como elementos fundantes da epistemologia vigente no campo da educação em ciências, ambos marcadamente brancos e eurocentrados. Este trabalho objetiva fazer uma discussão teórica, epistemológica e metodológica sobre como o uso do conceito de raça na produção do racismo e nos processos políticos e educativos anti(racistas) tem sido feito no contexto das Ciências Exatas, particularmente no caso de Física e de Astronomia. Por meio da categoria “cosmologias racializadas”, fazemos uma discussão teórica de como o conceito de raça e do racismo científico foram produzidos a partir do pensamento científico europeu do século XIX e têm sido reproduzidos na comunidade científica, em suas práticas políticas, educacionais e epistemológicas, de forma que o racismo científico, uma pseudociência, contribua para a afirmação de estereótipos e representações negativas do pensamento da população negra, contribuindo para a invisibilização e subalternização do lugar da produção do conhecimento sobre a África e o legado afrodiaspórico nas Ciências Exatas. Concluímos que as práticas e formas de pensar o Universo na perspectiva da Física e da Astronomia moderna e contemporânea são etnocêntricas e branconcêntricas, baseadas nos modelos europeus e dos Estados Unidos. Embora negado, as Ciências Exatas operam o tempo inteiro com o fenômeno do racismo, atualizado, perpetuado e legitimado pela ideia de raça, hierarquizando saberes e diferentes visões acerca da origem e evolução do Universo.

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Biografia do Autor

Alan Alves-Brito, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Bacharel em Física pela Universidade Estadual de Feira de Santana (2002), Mestre (2004) e Doutor (2008) em Ciências (Astrofísica Estelar) pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. Realizou estágios de doutorado no Chile (Alfa/LENAC), Estados Unidos (FAPESP) e Austrália (Sanduíche CAPES). Foi pesquisador visitante em centros de pesquisa em Portugal e Alemanha. Realizou estágios de pós-doutorado (2008-2014) no Chile (PUC) e na Austrália (Swinburne University e Australian National University, onde também atuou como Super Science Fellow). Atualmente é Professor Adjunto no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde desenvolve atividades de ensino, pesquisa, extensão, divulgação científica e gestão. Tem trabalhado em pesquisa (Programas de Pós-Graduação em Física e em Ensino de Física e no Núcleo de Estudos Africanos, Afro-Brasileiros e Indígenas) da UFRGS em temas voltados para a evolução química de diferentes populações estelares da Via Láctea, educação e divulgação de Astronomia e Física, incluindo questões decoloniais, étnico-raciais, de gênero e suas intersecções nas ciências exatas. Membro da União Astronômica Internacional, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Sociedade Astronômica Brasileira, Sociedade Brasileira de Física e Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as), foi eleito em 2014 Membro Correspondente da Academia de Ciências da Bahia. É diretor do Observatório Astronômico da UFRGS desde 2017. Coordena o PLOAD (Portuguese Language Office of Astronomy for Development) e é representante brasileiro no Office for Education, ambos da União Astronômica Internacional. É membro da diretoria da Sociedade Astronômica Brasileira (2018-2020) e integra os Grupos de Trabalho para Questões de Gênero e Equidade Racial da Sociedade Brasileira de Física. É autor de 2 livros de divulgação em ciências.

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Publicado

08-09-2021

Como Citar

ALVES-BRITO, A. Cosmologias racializadas: processos políticos e educativos anti(racistas) no ensino de Física e Astronomia. Roteiro, [S. l.], v. 46, p. e26279, 2021. DOI: 10.18593/r.v46.26279. Disponível em: https://periodicos.unoesc.edu.br/roteiro/article/view/26279. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Seção temática: Epistemologias Negras e Processos Educativos