Direito à saúde no Brasil: parâmetros normativos para densificação de um conteúdo mínimo

Autores

  • Luiz Antônio Freitas de Almeida Professor na Escola de Direito do Ministério Público/MS. Promotor de Justiça em MS.

DOI:

https://doi.org/10.18593/ejjl.19621

Palavras-chave:

Direito à saúde, Judicialização, Proporcionalidade, Conteúdo mínimo

Resumo

A judicialização do direito à saúde é um fenômeno crescente no Brasil. Os casos difíceis versam sobre medicamentos e tratamentos não incluídos nas políticas do sistema único de saúde – SUS, tema que foi enfrentado pelo Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário n. 566.471/RN. A resposta judicial ineludivelmente perpassará por uma ponderação, que deve passar pela estrutura analítica da norma da proporcionalidade e seus testes. Contudo, para uma maior racionalidade jurídica advinda da maior objetivação da ponderação, é importante acrescentar o conteúdo mínimo como padrão que define o grau de deferência e o ônus de argumentação do Estado. Nessa linha de pensamento, com o uso do método técnico-jurídico, o artigo oferece os parâmetros normativos para auxiliar na definição do conteúdo mínimo do direito à saúde no Brasil. Antes, porém, será preciso verificar a compreensão de conteúdo mínimo dada pelo Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da Organização das Nações Unidas.

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Biografia do Autor

Luiz Antônio Freitas de Almeida, Professor na Escola de Direito do Ministério Público/MS. Promotor de Justiça em MS.

Doutor em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e Mestre em Direitos Fundamentais pela mesma Faculdade. Especialista em direitos fundamentais pela mesma Faculdade. Especialista em Direito Constitucional pela UNAES. Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Promotor de Justiça no Mato Grosso do Sul.

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Publicado

30-06-2020

Como Citar

Almeida, L. A. F. de. (2020). Direito à saúde no Brasil: parâmetros normativos para densificação de um conteúdo mínimo. Espaço Jurídico Journal of Law [EJJL], 21(1), 149–168. https://doi.org/10.18593/ejjl.19621

Edição

Seção

Direitos Fundamentais Sociais