ATUAÇÃO DE ENFERMEIROS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA FRENTE A DETECÇÃO PRECOCE DO CÂNCER DE COLO UTERINO

Autores

  • Camila Amthauer Universidade do Oeste de Santa Catarina
  • Rafaela Fátima de Godoi
  • Natália Geny Degasperin
  • Franciele Luana Nielsson
  • Géssica Salmin
  • Érika Eberlline Pacheco dos Santos

Resumo

Introdução: A incidência do câncer do colo do útero no Brasil é alta, sendo a segunda neoplasia maligna que mais acomete as mulheres no mundo, superada apenas pelo câncer de mama (MELO et al., 2012). Por meio do exame citopatológico e do tratamento adequado das lesões precursoras que apresentam alto potencial de malignidade e carcinoma in situ, pode-se reduzir em até 80% da mortalidade entre mulheres de 25 a 65 anos (PRATES; HENTSCHEL, 2012). Neste contexto, o enfermeiro apresenta um papel fundamental na realização de ações na Atenção Primária à Saúde para o controle e detecção precoce do câncer de colo uterino sendo várias ações atribuídas, especificamente, a este profissional (CAVALCANTE et al., 2013). Objetivo: Descrever as concepções e práticas desenvolvidas pelos enfermeiros da Estratégia de Saúde da Família (ESF) para a detecção precoce do câncer de colo uterino. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória com abordagem qualitativa. Recorte de um trabalho de conclusão de curso desenvolvido em um município do Extremo Oeste de Santa Catarina, junto as dez ESFs que o município dispõe. Como critério de inclusão o profissional deveria ser graduado em enfermagem e foram excluídos os profissionais que se encontravam em algum tipo de afastamento durante o período da coleta de dados. Para a coleta de dados foi empregada uma entrevista semiestruturada, as quais tiveram caráter individual e foram realizadas em um espaço que garantisse a privacidade do participante. A coleta dos dados foi realizada no mês de julho de 2018. Para análise dos dados foi utilizada a análise de conteúdo do tipo temática, proposta por Minayo (2014). O estudo respeitou os preceitos éticos da Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012). Resultados e discussão: Fizeram parte do estudo dez enfermeiros que atuam nas ESFs do município envolvido. Conforme relatos dos profissionais sobre as ações desenvolvidas para a detecção precoce do câncer de colo uterino, mencionam que é essencial a realização do exame citopatológico, sendo uma das principais formas de prevenção deste tipo de câncer. O exame preventivo é o método mais efetivo e eficiente utilizado coletivamente para rastreamento da patologia. É uma estratégia de prevenção secundária ao câncer cérvico-uterino, pois possibilita o diagnóstico precoce das lesões precursoras antes de se tornarem invasivas, reduzindo as taxas de morbi-mortalidade pela doença (PINHO; FRANÇA-JÚNIOR, 2003). Também relatam que, apesar da orientação do Ministério da Saúde na realização do exame de Papanicolau a cada três anos após dois exames anuais negativos, a maioria dos entrevistados veem a necessidade e orientam a realização da coleta do exame preventivo anualmente. A realização anual do exame de Papanicolau permite reduzir em 70% a mortalidade por câncer de colo uterino na população de risco (OLIVEIRA et al., 2010). Alguns enfermeiros entrevistados referem que realizam a coleta do exame preventivo a livre demanda, as mulheres podem buscar a unidade de saúde em qualquer horário de atendimento para realizar o exame. Outros enfermeiros relatam que realizam o agendamento. Alguns justificam o agendamento pela ausência de sala específica para a realização da coleta, necessitando utilizar o consultório médico, agendando o procedimento em dias específicos que não há atendimento desse profissional. Outros acreditam que o agendamento facilita a organização das rotinas da unidade e otimiza o tempo das pacientes. Para facilitar o acesso das mulheres aos serviços de saúde é necessário abandonar o agendamento por horário para coleta do exame preventivo. É necessário dispor de horários alternativos que facilitem o acesso da população feminina ao serviço, deixando de forma livre para o acesso das mulheres, em concordância com o que diz o Ministério da Saúde a respeito da agenda vertical (RAMOS et al., 2014). Outro ponto positivo citado por vários enfermeiros é a Rede Feminina, onde a realização do exame é mais acessível, pois neste local o atendimento ocorre em todos os dias da semana e a livre demanda. Ao adentrar na questão da acessibilidade, é fundamental pensar na relação entre a necessidade de prevenção de agravos e a oferta de serviços de saúde para suprir essas necessidades. O acesso aos serviços de saúde não depende apenas da disponibilidade de recursos, mas também,da garantia da sua utilização (CARVALHO et al., 2016). Os enfermeiros também relatam que a orientação médica e de enfermagem deve ser realizada aliada a busca ativa de pacientes com exames de Papanicolau atrasado, sendo que realizam um trabalho de busca ativa em conjunto com as agentes comunitárias de saúde para identificar pacientes que necessitam realizar o exame de Papanicolau. A busca ativa das mulheres para assiduidade da coleta do preventivo é fundamental para dar seguimento às ações de prevenção e promoção da saúde da mulher, bem como o controle do câncer de colo de útero. Considerando que esse momento é oportuno para esclarecer as dúvidas e medos referentes ao exame e a patologia em si. Para isso, é necessário que os profissionais de saúde estejam capacitados para abordagem positiva frente às mulheres (OLIVEIRA et al. 2010). A realização da campanha “Outubro Rosa” é citado por vários enfermeiros como um ponto positivo para a detecção precoce do câncer de colo uterino em todo o município em estudo. A iniciativa Outubro Rosa, integrada ao Instituto Nacional do Câncer (Inca), foi implantada em 2010 no Sistema Único de Saúde (SUS), tornando-se parte do programa nacional de controle do câncer de mama e colo uterino. Visa chamar a atenção da população a respeito desses tipos de câncer em mulheres de todo o mundo, sendo que suas ações têm como objetivo realizar o diagnóstico precoce visando diminuir a mortalidade em decorrência dessas neoplasias (COUTO et al., 2017). Os Enfermeiros mencionam que realizam orientações acerca do tema durante as consultas de enfermagem, tendo em vista que o déficit de conhecimento das mulheres acerca do exame Papanicolau, evolução das lesões precursoras ao câncer cérvico uterino e da patologia em si, tornam-se uma barreira para a realização do exame preventivo. Ao desconhecerem a importância de realizar o exame de Papanicolau, a população tende a não associá-lo a uma prática de saúde. Assim, apesar de o câncer de colo uterino apresentar altos potenciais de prevenção e cura por meio do rastreio oportunístico, ainda existem mulheres que desenvolvem esse tipo de câncer e morrem por esta patologia no Brasil, pelo fato de desconhecerem a finalidade do exame preventivo (AGUILAR; SOARES, 2015). Também é citado por dois dos Enfermeiros entrevistados, a orientação durante a coleta do exame de Papanicolau questões relacionadas a alterações do fisiológico, ou seja, algo que se apresente fora da normalidade, como presença de secreção, corrimento, dor ou sangramento durante ou após a relação sexual, entre outras alterações. Enfatizando a importância das mulheres se atentarem para tais alterações, a importância de se tocar e se observar, para entender as alterações que o corpo sofre, possibilitando a procura por tratamento ou orientações mediante qualquer alteração sugestiva. Torna-se importante estimular as mulheres a conhecer o seu corpo, atentando-se para alterações fisiológicas e cuidados com sua sexualidade, bem como procura por assistência ginecológica. Essa prática deve estar presente em todas as fases da vida, desde a puberdade até a terceira idade (SANTOS et al. 2015). Citaram também que devido à forte relação do Papiloma Vírus Humano (HPV) com o câncer de colo uterino, o incentivo ao uso de preservativo também deve ser sinalizado, principalmente para populações vulneráveis a adquirir a doença, como mulheres com múltiplos parceiros, baixa escolaridade, baixa condição socioeconômica, entre outros. A prática do sexo seguro através do uso de preservativo masculino durante as relações sexuais ainda é tida como prevenção primária do câncer de colo uterino, já que evita a contaminação por infecções sexualmente transmissíveis sendo que estas estão diretamente ligadas à incidência da patologia (CASARIN; PICCOLI, 2011). Considerações finais: Para uma boa adesão da mulher ao preventivo é necessário ferramentas de ajuda como mídia, o trabalho dos agentes comunitários de saúde para realizar a busca ativa das mulheres e as ações preventivas do enfermeiro. Nisso, os enfermeiros enfrentam dificuldades de adesão, como a falta de informação sobre os riscos e gravidade do câncer de colo de útero, o constrangimento e o medo de encontrar um resultado indesejado, falta de profissionais e tempo. Sabendo da importância do papel do enfermeiro, torna-se importante a qualificação destes profissionais, por meio da Educação Permanente em Saúde, apoiada pelo Ministério da Saúde, com vistas a contribuir para o aprimoramento de suas habilidades e competências ao desempenhar tais atividades de prevenção e promoção da saúde.

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Publicado

2019-10-28

Como Citar

Amthauer, C., Godoi, R. F. de ., Degasperin, N. G., Nielsson, F. L., Salmin, G., & Santos, Érika E. P. dos. (2019). ATUAÇÃO DE ENFERMEIROS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA FRENTE A DETECÇÃO PRECOCE DO CÂNCER DE COLO UTERINO. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc São Miguel Do Oeste, 4, e23292. Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeusmo/article/view/23292

Edição

Seção

Área das Ciências da Vida e Saúde – Resumos expandidos