AS PSICOLOGIAS E SUAS PRÁTICAS

REFLEXÕES DE UMA EXPERIÊNCIA COM JOVENS E AS CONTRIBUIÇÕES DOS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS

Autores

  • Gabriel Afonso Costacurta Universidade do Oeste de Santa Catarina
  • Abel Petter
  • Gilberto Oliveira Rodrigues
  • Angela Maria Bavaresco
  • Anderson Schuck
  • Verena Augustin Hoch

Resumo

CONSIDERAÇÕES INICIAIS: O presente trabalho é um relato de uma experiência com jovens de 14 a 24 anos realizada no Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) de uma cidade do extremo-oeste de Santa Catarina. As atividades foram desenvolvidas através do Estágio Curricular Supervisionado, disciplina do curso de Psicologia, sob supervisão e orientação. O estágio supervisionado proporciona ao estudante o domínio de instrumentos teóricos e práticos imprescindíveis à execução de suas funções e visa beneficiar a experiência e promover o desenvolvimento dos conhecimentos teóricos e práticos adquiridos durante o curso nas instituições de ensino superior (SCALABRIN; MOLINARI, 2013). Em suma, o estágio supervisionado possibilita a percepção do que o futuro profissional poderá encarar no seu cotidiano, buscando atingir seu objetivo maior que é o da promoção de saúde, qualidade de vida e eliminar formas de negligência, discriminação e/ou violências. Assim, a atuação junto ao público de jovens objetivou possibilitar um espaço de escuta e produção de significados diversos, em decorrência dos diálogos que efetivamente puderam se concretizar. RELATO DA EXPERIÊNCIA: O grupo de jovens pode ser considerado como um novo e único espaço, no qual os participantes podem refletir sobre experiências e vivências para elaborar e reconstruir tais experiências que estão internalizadas em cada um (ZIMERMAN, 2004). Junto ao CIEE, levando em consideração as demandas particulares apresentadas a priori, inicialmente foi trabalhado de modo psicoeducativo, considerando as atividades propostas pelo local em abordar determinados assuntos que mobilizavam os grupos. Perfaz nosso entendimento que pensar a saúde mental coletiva implica em interferir e possibilitar linhas de questionamentos sobre o que produz sofrimento. Deste modo, as discussões tiveram base nos princípios fundamentais do código de ética profissional do psicólogo, I e III que diz: "O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão", e: "O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural". Por meio de rodas de conversas, buscamos junto dos participantes pensar situações e condições que estavam produzindo inseguranças e/ou angústias; como relações de trabalho, relacionamento com a família, além dos processos subjetivos atravessados por medos e ansiedades. Foram promovidos alguns debates com o intento de que pudessem expor suas percepções sobre situações por eles levantadas. Nesse sentido, os conflitos e angústias por eles trazidos se articulam nas relações sociais e afetivas com sua própria história de vida que estão subordinadas às leis que regem este sistema, sendo estas, também, um dos principais responsáveis pela sensação de desprazer. Suas falas giram em torno das frustrações causadas pelo conflito dos seus desejos, que são confrontados nos aspectos de funcionamento de trabalho, de sistema familiar e sociedade como um todo. No que discorre Lacan, ao falar que "quando uma história é contada, outra história é escrita", acreditamos que outras realidades foram sendo pensadas e construídas, à medida que suas angústias se tornaram palavras. Por outro viés, as experiências trazidas pelo grupo foram compreendidas levando-se em consideração a teoria de Carl Rogers, que propõe o desenvolvimento de três atitudes básicas para a facilitação do processo de crescimento da pessoa: congruência, consideração positiva incondicional e compreensão empática. O terapeuta será congruente na medida em que for ele mesmo na relação com o cliente. Quanto mais puder desprover-se de barreiras profissionais ou pessoais, maior a probabilidade de que o cliente mude e cresça de modo construtivo, afirma Rogers (1983). Consideração positiva incondicional: a segunda atitude mencionada por Rogers (1983), é a aceitação, o interesse ou a consideração - significa que o terapeuta tem atitude positiva e aceitadora à pessoa do cliente. O terapeuta facilita ao cliente a expressão dos sentimentos que estão ocorrendo no momento, não importando quais sejam. É importante ressaltar que o que foi dito ou expresso por qualquer um do grupo, foi aceito, da maneira como cada um vivencia sua própria experiência. Por compreensão empática Rogers (1977) define como um processo, uma maneira de ser na relação com outra pessoa. Significa penetrar no mundo de percepções do cliente, apreender os significados que o mesmo percebe em relação aos seus sentimentos, sem julgamento, e transmitir esta compreensão, de forma não impositiva. Neste sentido, acompanhamos crescimentos a partir da ressignificação de percepções e comportamentos, antes trazidos como produtores de sofrimento. Além do crescimento pessoal, foi percebido o fortalecimento de vínculos no grupo e o respeito de cada um em relação aos demais. Num segundo momento do estágio, buscamos junto deles, construir um grupo terapêutico, visando um espaço que fosse acolhedor, a partir de suas demandas subjetivas.  Nas palavras de Muller (2003), sobre a necessidade de encontrar a si mesmo, em espaços inéditos de reflexão de si, do sentido ao que se viveu, e pelo que se viverá. "A cura é a demanda que parte da voz de quem sofre, de que sofre no seu corpo ou no pensamento" (LACAN, 2003, p. 517). Todo alívio repousa na fala, e é através das palavras que se pode produzir novos significados. Ao falarmos de que é preciso interferência no que produz sofrimento para pensar saúde mental coletiva, dá-se pela percepção de que às ansiedades, medos, angústias, têm sido produzidas no meio social pelas violações básicas dos sujeitos e na precarização das condições de vidas. A transformação da realidade social ocorre a partir do embate produzido na articulação do sujeito com sua realidade concreta, nos espaços coletivos, através de trocas intersubjetivas, na produção de significados socialmente compartilhados, capazes de reinventar a existência do homem no mundo (MOURA, 1999). O psicólogo deve, nesse processo, contribuir para a transformação social e repensar na concepção de sujeito e, consequentemente, na concepção de práticas de fazer psicologia. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Deste modo, ao abordarmos os temas sugeridos pela unidade concedente, percebemos a importância do posicionamento da psicologia frente as condições político-sociais, históricas, que produzem sofrimento. A Psicologia, ou melhor, as psicologias, devem encontrar seu compromisso social, pois o eu não se constitui sem o outro, ou seja, não há individualismo que se sustente na ausência do social (MOREIRA; ROMAGNOLI; NEVES, 2007). Ainda, destaca-se a importância em entender que os movimentos dos sujeitos são singulares e que quem fala, o faz a partir de um contexto de vida e social.  Nesse sentido, contribuir com movimentos individuais e coletivos no grupo foi de suma importância. Ter a possibilidade de vivenciar os significados de se fazer presente em espaços como esse são de ensejo ímpar e de grande valia para a prática profissional.

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Publicado

2019-05-03

Como Citar

Costacurta, G. A., Petter, A., Rodrigues, G. O., Bavaresco, A. M., Schuck, A., & Hoch, V. A. (2019). AS PSICOLOGIAS E SUAS PRÁTICAS: REFLEXÕES DE UMA EXPERIÊNCIA COM JOVENS E AS CONTRIBUIÇÕES DOS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc São Miguel Do Oeste, 4, e20608. Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeusmo/article/view/20608

Edição

Seção

Área das Ciências da Vida e Saúde – Resumos expandidos