EXPERIÊNCIAS E RESSIGNIFICAÇÕES: UM OLHAR SOB A PERSPECTIVA DA PSICOSSOMÁTICA

Autores

  • Jaqueline Fabbi UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA
  • Sidinei Farias UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA
  • Lisandra Antunes de Oliveira UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA

Resumo

O filme, as Filhas de Marvin, retrata uma família em que sua geração anterior e atual sofre inúmeros conflitos emocionais, doenças, relações desgastantes, hostilidade e uma concomitância gradativa de amor que é tecida nas diferentes vivências daquela realidade. As irmãs Lee e Bessie obtiveram durante anos um distanciamento geográfico e emocional em que as poucos se reestabelece. Bessie cuidava do pai, enfermo de um derrame, e também convivia com uma tia, chamada Ruth, que sofria com o medo da solidão e problemas de coluna. Lee sofria violência de seu cônjuge e com seus dois filhos não conseguia desenvolver vínculos. Paralelo a esta realidade acentuada por conflitos e problemas de saúde, se desenvolvem diversos outros desafios que acarretam em vulnerabilidade. O filme retrata as marcas da violência cometidas pelo pai de Hank, filho de Lee, que foram escondidas na memória por mecanismos de proteção psíquica. Entretanto, a dor da violência não se apaga com o tempo e se manifesta nas mais diversas formas, haja vista que Hank apresentava comportamentos de revolta, intolerância e resistências relacionadas ao campo afetivo, principalmente com sua mãe. Por outro lado, ao aproximar-se de sua tia,
Bessie, suas relações e atitudes permeadas pelo medo e resistência vão ressignificando-se. A leucemia de Bessie desafia os seus dois sobrinhos, além da irmã a estreitarem vínculos que até então estavam inexistentes ou longevos. Bessie precisava de um transplante de medula óssea e os filhos de Lee são cogitados para doação de medula. Este fato propicia as primeiras tentativas de reaproximação marcadas por temor, incertezas, lembranças desagradáveis, etc. Nesta proximidade vários conflitos familiares reaparecem e ao mesmo tempo uma nova dinâmica familiar vai surgindo. As histórias de vida são revistas, a tia acolhe o Hank e aos poucos o menino reaprende a amar sua realidade, além de seu irmão. Bessie, cuidadora do pai e sinalizadora de amor, reconquista o vínculo com a irmã e também coloca-a em proximidade com a tia e seu pai, além dos filhos. A profissão de maquiagem de Lee é benéfica a Bessie em que consegue mudar seu padrão estético, além do novo vínculo que acontece entre ambas. Risos, choros, admiração, alteridade, carinho são sentimentos que Bessie utiliza para reiventar-se de forma subjetiva e coletiva. Além disso, os demais familiares nesta nova realidade conseguem acessar-se internamente para desenvolver resiliência, apoio, novas escolhas e o fortalecimento a fim de reaprender a conviver com as doenças, dentre elas a leucemia e o derrame de Marvin. Outra análise que merece destaque é com relação ao medo, algo paralisante nas mais diversas relações e que aos poucos é deixado de lado por conta de um passado doloroso e marcado por perdas. Cita-se como exemplo o caso de Lee em que se negou a cuidar do pai, deixando por um determinado período a irmã magoada. Entretanto, Lee tinha medo de assumir o cuidado e que o pai viesse a óbito. Outro exemplo elucidativo de atitudes medrosas é com a tia Ruth. Ela retrata alguns comportamentos temerosos, mas por outro lado com a modificabilidade supera-se. Enfim, a esfera de vínculos vulneráveis, mas que se fortalecem, demonstra a dinâmica das famílias que podem aprender a cultivar-se mais e valorizar o sentimento de pertença, a unidade na diversidade e superação de medos para que as doenças e possibilidades de psicossomatização sejam revertidas e\ou minimizadas. A importância de olhar a transgeracionalidade familiar e conflitos
não resolvidos demonstram que cada ser humano possui um potencial biográfico e é uma pessoa humana que necessita de relações sociais salutares para que a saúde mental e o prazer sejam contemplados como garantia de direitos humanos e qualidade vital. De grande importância para a psicologia e outras áreas, o filme faz refletir conceitos pressupostos e implícitos de psicossomatização e adoecimento psíquico, frutos de uma relação em que a fala, o sentimento e o corpo são harmônicos e não podem ser negligenciados. A sabotagem, os excessos e faltas do ser humano em defesa de si mesmo, relembra que ele está inserido em uma sociedade histórica como produto e produtor da realidade. Todavia possui uma capacidade de autodesenvolver e promover saúde em sua tendência atualizante.

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Referências

AS FILHAS DE MARVIN. Direção: Jerry Zaks. Produção: Roberto De Niro, Scott Rudin, Jane Rosenthal. Eua, 1996.

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Publicado

2018-08-31

Como Citar

Fabbi, J., Farias, S., & Antunes de Oliveira, L. (2018). EXPERIÊNCIAS E RESSIGNIFICAÇÕES: UM OLHAR SOB A PERSPECTIVA DA PSICOSSOMÁTICA. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc São Miguel Do Oeste, 3, e17678. Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeusmo/article/view/17678

Edição

Seção

ACH Resumos expandidos